UM DILEMA BRASILEIRO
- Leandro Magalhães
- 2 de mai. de 2017
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De todas as excrescências produzidas pelos últimos solavancos da política nacional a proposta de reforma eleitoral está sem dúvida entre as mais repugnantes.
Veem-se os brasileiros ante um dilema inumano*: ou assistem perplexos a aprovação pelo Congresso Nacional do voto em lista fechada - um efeito esperado do financiamento público de campanha - ou, humilíssimos, se amparam na continuidade do voto proporcional.
Se a ideia de proporcionalidade no sistema de votação nunca refletiu um mecanismo de escolha justo e equilibrado, a lista fechada é aquele querosene que faltava para inflamar de vez a crise de representatividade nacional.

A rigor, funciona assim: o chefe partidário determina o lugar de cada candidato na lista de acordo com o grau de cumplicidade. É provável que qualquer conflito de interesses no interior do partido seja transferido para o escalonamento da lista.
Decorrem da possível promulgação do voto em lista um conjunto de consequências, entre as quais: (I) a substituição da conquista do apoio popular pela ação partidária interna, ou seja, o voto pela partidocracia; (II) a prioridade pelas posições superiores da lista serão obtidas pelos candidatos que cultivarem relações de reciprocidade com os caciques; (III) o aumento do poder das estruturas partidárias: as legendas reúnem-se em caráter de "acórdão" para decidir quais serão as pautas discutidas pelo Parlamento, já transfigurado em casa de homologações; (IV) os atuais mandatários investigados por crimes de corrupção se escudariam da impopularidade através de uma ação partidária eficiente; etc., etc., etc.
Ou isso ou manter-se o voto proporcional, outro mecanismo perverso que desqualifica o voto majoritário, responsável por inserir no ambiente político figuras gongóricas sem expressividade popular.
Logo após a conclusão do calendário de reformas urgentes (limite de gastos públicos - ensino médio - regulação das terceirizações - modernização das leis trabalhistas - seguridade social) certamente assistiremos a tragédia de uma reforma política arquitetada pelos velhos próceres das estruturas que derroem o poder nacional.
* O distritão proposto pelo presidente Temer também pode ser uma realidade potencial
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