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CRONOSSÔNICAS: Medo de Beatles

  • Thiago Nascimento
  • 3 de abr. de 2017
  • 3 min de leitura

Música dentro de ônibus é mó paia, como se diz no Ceará. Quem frequenta, já andou, ou viu um ônibus coletivo de perto, deve imaginar do que eu tô falando. Fica só um ruído ilegível de um vestígio de algo que remete a uma música(!). Muitas vezes não remete é nada. Só o ruído puro!!

Outro dia sai do meu trabalho, que fica perto da Desembargador Moreira na altura da Antônio Sales, logo após a Praça da Imprensa, mais precisamente em frente a FIC da Aldeota, por volta de 16h.

O dia estava claro com um sol generoso e a rua estava tranquila, isso porque eram férias e não tinha todo aquele movimento de carros e alunos da universidade que é o que faz diferença na paisagem sonora daquela região. De manifestação sonora, somente o som das marteladas distantes do quinto andar do novo prédio em construção ao lado, dos poucos e “silenciosos” carros que passavam ali, os pássaros muito constantes e aquele “vazio de pessoas” como grande parte da Aldeota. Caminhei dois quarteirões nessa paisagem chegando a áspera textura de som na Desembargador, vários carros, motos e ônibus. Muito daquele zumbido de pneus no asfalto plano.

Peguei o ônibus 27, Siqueira/Papicu via aeroporto, em direção ao terminal do Siqueira. Quando entrei no ônibus vi que estava vazio - acho que só tinham umas dez pessoas fora o cobrador e o motorista - então passei logo e fui procurar uma cadeira livre no meio do veículo, onde chacoalha menos, sentei e só aí percebi que estava tocando uma música um tanto quanto baixa.

Normalmente não gosto de ouvir música dentro de ônibus, - e sinceramente não entendo como alguém pode gostar de ouvir forró as 6h da manhã dentro de um ônibus lotado - mas nesse dia tava tranquilo, com pouco ruído de conversa entre os passageiros, o ônibus não tinha aquela rangedeira como os que rodam na periferia e era uma música dos Beatles (não lembro bem qual).

Depois que o ônibus saiu da Praça da Imprensa, na Desembargador, continuou na Raul Barbosa e foi chegando perto do viaduto que passa por cima da BR-116. Nesse trecho o ruído do tráfego foi aumentando escondendo um pouco mais a música que de repente começou a sofrer a interferência das antenas do aeroporto e os Beatles começaram a se transformar em um monstro com voz gutural de textura granulada. Comecei logo a me incomodar e ficar desconfortável com aquela chiadeira já indistinguível, olhei ao redor e vi que ninguém estava se incomodando, sinal de que nem reparam no que está ocupando o espaço acústico. Passam uns segundos e a chiadeira do rádio aumenta de volume, olho ao redor e não vejo manifestação de ninguém a respeito do veneno sonoro espalhado dentro do veículo. Quem estava dormindo, dormindo ficou. Quem estava conversando, conversando continuou. Quem estava só olhando pro tempo, olhando permaneceu. Nesse trecho olhei pela janela já estávamos entrando na avenida Tasso Jereissati, a do aeroporto, passando do viaduto que tem os dizeres “Ceará Terra da Luz”, o ruído do rádio é intensificado pelo trânsito veloz, frenesi agitado, e zumbido constante dos veículos. Já chegando na placa “Bem Vindo à Fortaleza” eu já estava agoniado e nem o motorista parecia notar a diferença entre Beatles e um monte de abelhas dentro de uma sacola de plástico, pois pra todos aquele barulho insuportável parecia normal e aceitável. Só quando o ônibus se encostava na faixa da direita pra passar por dentro do aeroporto é que o motorista pareceu acordar pro som e simplesmente desligou o rádio. - Até que enfim: alivio!! eu já tava que não aguentava mais. – O ônibus entrou no aeroporto e a tranquilidade do ambiente sem rádio era mais acentuada – pelo menos pra mim –, pegou alguns passageiros e saiu, seguiu com o rádio desligado pelo resto da avenida mas eu ainda fiquei com aquela chiadeira na cabeça ecoando por alguns instantes até o momento do segundo alívio: quando o coletivo faz aquela curva acentuada que entra no Montese.

A diferença é gritante entre o ambiente sonoro da avenida e o do bairro do Montese, de ruas estreitas, trânsito mais calmo e lento, pessoas nas calçadas e mais perspectiva acústica.

Eu já estava feliz achando que ia seguir numa viagem tranquila dali então, porém tem um ditado que diz que alegria de pobre dura pouco e logo que entra no bairro o ônibus para no primeiro cruzamento, onde a preferencial é de quem cruza a via e o motorista pareceu sentir falta de algum barulho a mais no ambiente então resolve ligar o rádio de novo.

 
 
 

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Opinião

A quem pertence a ideia?

                               (Júnior Silva)

Por que uma pessoa que toma marxismo como referência de construção de ideias se auto intitula marxista? Mesmo ela e quem a escuta percebendo que suas ideias não são adaptações, são de fato mais que isso, são outras ideias, um compilado, uma síntese, o seja lá o que for. A questão é, quem determina o que de fato é a evolução do pensamento de um pensador que já morreu? Porque o apego a nomenclaturas de maneira excessiva?

Quando leio  Zizek, o vejo como alguém que tem uma nova percepção, mas sempre devendo a Marx, não como influencia, mas se dizendo comunista.

Não falo de você negar a palavra enquanto símbolo, até porque isso seria meio louco, já que ela é também responsável pelas nossas iterações com o real.

Pergunto, quem de fato pode se dizer proprietário de uma ideia? Tudo que o homem observa e uma interpretação da realidade a sua volta e tenta expressar isso através de palavras, mas como sabemos, as palavras são limitadas pra abarcar toda a realidade, e possuem um defeito na suas entranhas, a palavra está em inercia enquanto o mundo está em movimento. Oque também é obvio se pararmos para pensar um pouco, as ideias, as teses são conglomerados de palavras buscando abocanhar uma parte maior da realidade, quando o pensador morre ele não confronta mais a realidade, porque morreu, então o que garante e me dá direito a minha interpretação e evolução desse pensamento? Se alguém deixa um livro escrito, e eu leio, vou ter uma interpretação do que esse alguém escreveu, mas a interpretação em si já carrega outros elementos que talvez nunca tenham passado pela sua cabeça do autor.

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